Como fazer

O que Jesus Cristo pode ensinar sobre direitos humanos?

Por Camilla Freitas

“Direitos humanos para humanos direitos”. Você já ouviu ou reproduziu essa ideia? Se a resposta for sim, a primeira edição do livro “Jesus e os Direitos Humanos'', organizado pelo teólogo e pastor Ronilso Pacheco e publicado em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, é um bom caminho para entender o que são direitos humanos e qual a relação entre eles e Jesus Cristo.

Pensando nisso, Ecoa se debruçou sobre passagens bíblicas e fez uma lista inspirada no livro organizado por Pacheco e pelas  lideranças evangélicas que escreveram sobre o assunto. A ideia é entender que lições Jesus deixou sobre os direitos básicos de todos e todas. Bora aprender um pouco mais sobre isso?!

Segundo a Bíblia, Jesus Cristo deu para todos os outros que o seguiam, a tarefa de apartar os pobres, os marginalizados e indesejados pela sociedade. Tendo em vista essa missão, Cristo via a todos como iguais e desejava que fosse dado um tratamento mais cuidadoso a quem fosse mais necessitado. 

Tal passagem se assemelha ao  artigo 1  da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.”

Jesus critica (Lucas 11:42) quem opta por dar dízimos, mas não combate, como pode, às injustiças e desigualdades. Além de condena o acúmulo de riquezas, principalmente advinda de roubos (Lucas 19:8-10). 

 O artigo 25 da Declaração dos Direitos Humanos também aborda a questão das desigualdades afirmando que: “Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família saúde, bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos”, entre outros.

"O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor. 

Lucas 4:18-19

Lucas 11:42

"Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo  da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas." 

Essas premissas de que todos, independentemente de seus delitos, devem ser tratados com direitos também está na Bíblia.

Os artigos 7, 9, 10 e 11 da Declaração dos Direitos Humanos falam que todas as pessoas devem ser julgadas por um tribunal isento, que devem ter seus direitos garantidos, que não podem ser presas arbitrariamente e que são inocentes até que se prove o contrário.

Além disso, em Mateus 25:36, Jesus fala mais uma vez da pessoa em situação de encarceramento e bendiz seu acolhimento. Ou seja, ele não prega o abandono e esquecimento de quem está em prisões. Muito pelo contrário, prega sua humanidade.

"Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra." 

João 8:7

Mateus 25:36

"Necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram."

Desde que não ofenda, incite algum tipo de crime ou ameace outra pessoa, todos possuem o direito de liberdade de opinião, mesmo que ela seja diferente da sua. É isso que diz a Declaração dos Direitos Humanos. 

Para Jesus, isso também era válido. Ao contrário de silenciar, agredir ou incitar ódio aos que discordavam de seus seguidores, ele os ensinava a amá-los (Mateus 5:44). 

Nacionalidade e os direitos dos estrangeiros são assuntos que foram abordados por Jesus Cristo no Novo Testamento e estão presentes nos artigos 14 e 15 da Declaração dos Direitos Humanos. Para Jesus, assim como para a declaração, os estrangeiros devem ter seus direitos garantidos e devem ser acolhidos. 

"Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus."

Mateus 5:44

"Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram."

Mateus 25:35

Cabe ao artigo 5 da Declaração dos Direitos Humanos o seguinte: “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”.

O Novo Testamento mostra uma sociedade violenta na qual Jesus vivia, onde tais práticas eram comuns, até mesmo a pena de morte. Cristo, contudo, não defendia a tortura e nem a resistência armada. 

Entre as liberdades individuais contempladas na Declaração de Direitos Humanos, está a liberdade religiosa. Sabe quem também defendia a liberdade religiosa? Sim, Jesus! 

"Nisso veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: "Dê-me um pouco de água". Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. A mulher samaritana lhe perguntou: "Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber?" (Pois os judeus não se dão bem com os samaritanos.)"

João 4:7-9

"Disse-lhe Jesus: "Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão."

Mateus 26:52

Sempre houve evangélicos que, assim como Jesus, amaram os Direitos Humanos e a dignidade, que souberam viver com aqueles e aquelas que era diferentes deles e que viram no Evangelho inspiração e razão suficientes para entender o que defender justiça e igualdade. 

Teólogo, pastor, colunista do UOL e organizador do livro “Jesus e os Direitos Humanos” 
Ronilso Pacheco

Edição: Fernanda Schimidt

Reportagem: Camilla Freitas

Publicado em 06 de outubro de 2021